De fato essa não foi a melhor semana
pra mim. No tempo que passei no hospital vi muita coisa ruim. Na última vez que
voltei para fazer exames, enquanto esperava o médico, avistei um idoso em uma
cadeira de rodas. Sozinho. No meio do corredor. Não pensei duas vezes, guardei
minhas dores do bolso e fui.
"- O senhor está precisando de
alguma coisa?" – perguntei.
Ele com dificuldade de ouvir, eu repeti.
Ele com dificuldade de ouvir, eu repeti.
Tive um sorriso com resposta, seguido
de:
"- Não, minha filha! Muito obrigada! Estou aguardando minha mulher que foi pegar... (essa parte eu não entendi). Muito obrigada!”
Voltei e sentei em minha cadeira. Satisfeita, pois tinha conseguido tirar um sorriso daquele velhinho.
"- Não, minha filha! Muito obrigada! Estou aguardando minha mulher que foi pegar... (essa parte eu não entendi). Muito obrigada!”
Voltei e sentei em minha cadeira. Satisfeita, pois tinha conseguido tirar um sorriso daquele velhinho.
Fiquei ali por mais alguns minutos e
continuei observando-o. Observando a sua maneira de ser invisível. Para muitos
ele não estava lá. Apenas a cadeira estava. As pessoas passavam e simplesmente
desviavam da cadeira. Algumas olhavam, olhavam...E passavam. Não era possível
que só eu o via. Só eu via uma vida inteira de grandes histórias ali, sendo
"desprezada".
Eu o vi saindo da sala do médico e até
seu "Bom dia", falado com muito esforço, foi ignorado por muitos na
sala de espera. Minha vontade era de ficar do lado dele conversando, ouvindo as
tantas coisas que, com certeza, ele tinha pra contar, mas eu não podia ficar
muito tempo de pé.
As pessoas não viam o livro que ali
estava e olhavam pra ele com pena. Aliás, a pena é um dos piores sentimentos
que podemos sentir por alguém. Não gosto de sentir pena. É um sentimento
reflexivo, ruim para os dois, quem recebe e quem pratica.
Lembrei-me do meu avô, que tinha
histórias incríveis e as mesmas piadas nas quais sempre morríamos de rir. Quantas
histórias e lições estavam ali, esperando para entrarem em outras cabeças, e
quem sabe, serem eternizadas. Imagina se ele foi um soldado de guerra, se tinha
histórias do período da ditadura. Ou se simplesmente ele viveu em uma fazenda
plantando alguma coisa. Com certeza tinha história de amor.
Enfim sua mulher retornou, minha angústia diminuiu e ele deixou de ser
invisível pra mais uma pessoa.
Carolina Gomes