domingo, 31 de agosto de 2014

A cadeira e o velho



De fato essa não foi a melhor semana pra mim. No tempo que passei no hospital vi muita coisa ruim. Na última vez que voltei para fazer exames, enquanto esperava o médico, avistei um idoso em uma cadeira de rodas. Sozinho. No meio do corredor. Não pensei duas vezes, guardei minhas dores do bolso e fui.

"- O senhor está precisando de alguma coisa?" – perguntei.
Ele com dificuldade de ouvir, eu repeti.

Tive um sorriso com resposta, seguido de:
"- Não, minha filha! Muito obrigada! Estou aguardando minha mulher que foi pegar... (essa parte eu não entendi). Muito obrigada!”
Voltei e sentei em minha cadeira. Satisfeita, pois tinha conseguido tirar um sorriso daquele velhinho.

Fiquei ali por mais alguns minutos e continuei observando-o. Observando a sua maneira de ser invisível. Para muitos ele não estava lá. Apenas a cadeira estava. As pessoas passavam e simplesmente desviavam da cadeira. Algumas olhavam, olhavam...E passavam. Não era possível que só eu o via. Só eu via uma vida inteira de grandes histórias ali, sendo "desprezada".

Eu o vi saindo da sala do médico e até seu "Bom dia", falado com muito esforço, foi ignorado por muitos na sala de espera. Minha vontade era de ficar do lado dele conversando, ouvindo as tantas coisas que, com certeza, ele tinha pra contar, mas eu não podia ficar muito tempo de pé.

As pessoas não viam o livro que ali estava e olhavam pra ele com pena. Aliás, a pena é um dos piores sentimentos que podemos sentir por alguém. Não gosto de sentir pena. É um sentimento reflexivo, ruim para os dois, quem recebe e quem pratica. 

Lembrei-me do meu avô, que tinha histórias incríveis e as mesmas piadas nas quais sempre morríamos de rir. Quantas histórias e lições estavam ali, esperando para entrarem em outras cabeças, e quem sabe, serem eternizadas. Imagina se ele foi um soldado de guerra, se tinha histórias do período da ditadura. Ou se simplesmente ele viveu em uma fazenda plantando alguma coisa. Com certeza tinha história de amor.

Enfim sua mulher retornou, minha angústia diminuiu e ele deixou de ser invisível pra mais uma pessoa.

Carolina Gomes

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Facebook

Vamos lembrar de curtir a página no facebook! 
Lá avisamos todas as postagens e informações! Beijos 

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

E eu fui.

Talvez eu continue esperando as câmeras saírem, e me revelarem que não passou de uma pegadinha. Ei! O que foi isso? Um choque de realidade. Espera. Um minuto. Você me deixou. E não um deixar qualquer, você me deixou ir. Você podia ter me pedido pra ficar, me pedido pra pensar um pouco mais, mas você se calou. E como diz o ditado, quem cala consente amor. E eu fui. Mas só por que você deixou. Não é como se tivesse sido decisão minha, você podia ter gritado, esperneado, pestanejado, falado, pedido, ou só murmurado algo bem baixinho. Mas você se calou. E eu fui. Você podia ter me dito que o mundo conspira contra, mas os ventos sopram a favor. Mas calou. Fui.

Júlia Fagundes 

terça-feira, 26 de agosto de 2014

37

Antes de ler o texto: quero que saibam que esse é um texto que escrevi há muito tempo. Mas ainda é meu preferido. Ele é grande, mas aonde o leio ouço que vale a pena o tamanho. Então, com vocês... 37! 


Eu tinha 17 anos e jurava que ia casar com você
Ter dois filhos - uma menina e um menino 
Seríamos felizes pra sempre. 
Hoje tenho 37. 
Vinte anos depois de tudo aquilo que eu prometi pra você, 
nosso então amor insano não se fez eterno. 
Na verdade o amor fez sim, o que não fora eterno foi a união. 
No meio do nosso turbilhão e ocupados demais com sermos eu e você, 
nos perdemos nessa tal existência e deixamos pra trás o sermos nós, 
o que culminou no nosso fim... 
Foi triste e um dia superamos. 
Duramos longos 3 anos, o que naquela altura do campeonato me fazia achar que iríamos realmente durar uma eternidade. 
Passado o tempo me desprendi e fui viver meu presente, 
e futuro. 
Até que esses dias esbarrei em você. 
Você ainda mora aqui. 
Ainda usa aquele mesmo óculos, o mesmo corte de cabelo. 
Seu estilo de roupas é um pouco mais sério, o que me faz pensar que você conseguiu terminar sua faculdade de direito como sempre quis. 
“Meus parabéns senhor advogado” (ou vossa excelência? A essa altura eu já nem sei mais) 
Você usa uma aliança na mão esquerda. 
Ok, você se casou. 
E não foi comigo. 
Por que mesmo que a gente se separou? 
Fico alguns longos segundos tentando decidir se atravesso a rua e te cumprimento. 
Você fala com alguém no celular, claro, com aquele seu jeitinho irritadinho que tanto presenciei. 
Onde ficava meu ponto de calma pra aguentar tudo aquilo mesmo? 
Desmoronou em 3 anos. 
Ah que vontade de voltar no tempo e consertar tudo. 
Quero chegar perto de você e perguntar como estão as coisas (mesmo que dentro de mim a pergunta mesmo seja "como foi que você ficou sem mim?") 
Quero dizer "ei, completei a faculdade de medicina sabia? acho que dá pra perceber por que to de branco... namorei outros caras, achei que amei mais uma vez... mentira. 
Nunca amei ninguém depois de você... Pela sua mão eu vejo que você sim. 
Me mudei, passei uns tempos com meu padrinho no exterior... 
Meu inglês foi melhor que nunca naquela época.
Hoje ainda é bom, mas não ando tendo muito onde usar... 
Não tenho tempo nem vontade de cantar e tocar como antes. 
Não converso com estrangeiros, não assisto seriados.. meu inglês foi pro beleléu.. 
Como tá a vida? 
Você foi pai aos 28 como queria? 
Ensinou seu filho a jogar futebol e a juntar as letrinhas?”
Você hoje carrega uma pasta. 
Passei anos insistindo que comprasse uma. 
Será que você trabalha embarcado como sempre falou que iria? 
Comprou seu pandeiro de couro, carregou seus instrumentos pra casa nova? 
Aposto que sua família respira música, pagode de preferência. 
Você ainda toca por aí ? 
Nunca mais ouvi anúncios dos seus shows... fui à mais uns dois depois que nos separamos, mas fiquei bem longe do palco, sabia que sua miopia não deixaria você me enxergar. 
Você ainda fala com alguém no telefone. Articula, joga os braços pra cima ao reclamar de algo com alguém. 
E de repente resolvo atravessar. 
Você me vê e semicerra os olhos. Sorrio e você olha pro seu pé e desliga a chamada.
Eu paro aonde eu to... 
ainda tem espaço entre nós... 
sem saber se devo chegar mais perto que isso... 
Você faz que sim com a cabeça e me dá a mão pra me ajudar a pular a poça de água que acumulou da chuva entre a rua e o meio fio. 
Os bueiros daqui nunca foram muito bons. 
Sua mão na minha me faz ficar inteira vermelha. 
E eu nem me vi pra saber. 
Quando dou um pulinho e paro na calçada, paro direto no seu abraço apertado! 
Você diz bem perto do meu ouvido "Saudade." 
E eu digo "Também." 

Por algum motivo, a cena fica turva. 
Turva.
Pisco.
Pisco, e quando olho pro lado a gente tá deitado na nossa cama. 
Você me dá um beijo na testa e diz "Você tava tremendo minha princesa, pesadelo?".


Júlia Fagundes 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A minha melhor amiga

Amizade é uma coisa tão estranha... Não sei se estranha, mas com certeza inconstante. Mas não digo de amigos que você conhece em um bar qualquer e sai junto uma, duas vezes... Digo de amigos de verdade. Aqueles que você conta em uma mão... Por algum motivo um dia eu me chateei. Talvez até sem motivo. E meu chão sumiu. E apareceu alguém que soube trazer ele de volta pros meus pés... 
A minha melhor amiga não é simplesmente a pessoa perfeita pra qualquer um. Ela é perfeita pra mim. Ela se encaixa em todos os meus defeitos, os reduzindo com suas qualidades. E se encaixa em minhas qualidades, as exaltando com outras qualidades dela. 
Ela não precisa de palavras, de poemas. Os gestos dela bastam. Seu abraço me acalma, e ali eu fico o tempo que precisar. 
A minha melhor amiga não cresceu comigo, apesar de grandes amigas também terem crescido. Ela apareceu meio como quem não quer nada. E destruiu meu coraçãozinho meloso com seu jeito meigo. Eu poderia estar aqui escrevendo sobre amor, mais uma vez. E na verdade estou. Mas dessa vez não falo sobre um cara por quem me apaixonei. Mas uma amiga por quem me apaixonei. Não pensem que isso é qualquer tipo de jeito de dizer que a amo mais que amiga. Na verdade até é. Eu a amo como uma irmã. 
A minha melhor amiga não precisa se esforçar pra mostrar pra minha família o bem que ela me faz. Eles percebem no jeito com que nós agimos quando estamos perto. Sim, ela é especial. 
A minha melhor amiga não precisa de presentes, de jantares caros, e de nada de valor físico. Ela precisa de mim. E eu preciso dela. 
Eu, que sempre fui defensora do "necessidade e vontade são coisas diferentes" hoje digo: eu não sei ficar sem ela. Por que é pra ela que eu corro pra contar cada passo dado na minha vida. Ela sabe de tudo. E vai continuar sabendo. 
A vida me surpreendeu com a melhor pessoa que eu podia encontrar. Com certeza não seremos abaladas por nada externo. O tempo afunila as coisas e como em um filtro de café, só o que importa passa... Vamos deixando bagagens pesadas pra traz. E ela, leve que só, já passou a muito tempo... 
A minha melhor amiga correria mil kilometros atrás de mim. Eu correria o dobro. Obrigada, melhor amiga. Você é mais que especial.

Júlia Fagundes 

domingo, 24 de agosto de 2014

Sua na minha

Eu sou sua enquanto você é do mundo. 

Eu sou sua na minha, enquanto você é do mundo pra todo mundo ver. 

Principalmente eu. 


Eu sou sua na minha tomando toddynho enrolada na coberta, enquanto você é do mundo com uma garrafa de whisky na não. 


Eu fui sua pra todo mundo ver, enquanto você era do mundo na sua. 

Hoje os papéis se invertem, e ao ver tudo isso, involuntariamente, eu sou menos sua... Na minha.


Júlia Fagundes  

sábado, 23 de agosto de 2014

Mímicas do coração



Às vezes quem a gente procura está mais perto do que a gente imagina. E como foi engraçado. Você estava ali o tempo todo, esperando o momento certo de dar o bote. Foi esperando tanto que você me conquistou.

O tempo passou, nós mudamos, amadurecemos, nos afastamos e o destino nos uniu de novo. Rimos. Brincamos. Conversamos. Nos amamos. O tempo foi decisivo para nós. A direção também.

Quantas foram as vezes que quiseram nos separar, mas nós éramos reflexos, como o símbolo do infinito. Perdi a conta de quantos foram os dias sem palavras, com apenas gestos e olhares. Parecíamos externamente invisíveis uns aos outros. Nada mais que um simples "Bom dia" seguindo de uma enorme vontade de falar tudo.

Você não imagina o quanto me ensina, mesmo sem querer. E mesmo que não seja eterno, que eu continue aprendendo...

Carolina Gomes

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Envelhecida

Na categoria envelhecida, eu estou piorando hoje. Mais velha um ano. Na verdade, mais velha um dia, estou apenas seguindo a convenção social que leva o tempo em questões cíclicas... Quando na verdade ele é linear. Nosso tempo vai acabar. Não que eu aos 18 esteja pensando em morrer, Deus afaste. Viverei o máximo possível. Mas é inevitável ver o que ficou pra trás a cada ano que passou.
Histórias de amores construídas e destruídas em dias, amizades antes verdadeiras agora se tornam meros conhecidos. A vida vai afunilando nosso grau de facilidade conforme a gente cresce. As coisas vão fazendo sentido, vão se encaixando. E a gente descobre que só da pra aprender sobre a vida com a vida mesmo. Que nenhum livro de auto ajuda ensina a viver. A gente vai aprendendo que rosas tem espinhos, mas basta saber segura-las para desfrutar de seu cheiro maravilhoso. 
Tem gente que no dia do aniversário diz que queria voltar no tempo. Deus é que me livre voltar no tempo!! Não me arrependo de nada! Não voltaria jamais. Já sei onde fui, agora preciso saber onde vou. A cada passo dado, é chão novo pisado e é lugar novo descoberto, experiência e aprendizados novos. 
Crescer é nostálgico. Eu amo fazer aniversário. Amo mesmo. Mesmo que cantar os parabéns seja vergonhoso, não há quem impeça a felicidade que surge em nós em receber palavras bem colocadas de amigos importantes. Pra mim é pra isso que serve o aniversário. Apenas. Receber mais abraços que o comum(e olha que isso é difícil)... 
De qualquer forma, hoje passo para a maioridade em busca de sonhos e desafios. Correndo atrás de tornar o impossível possível, sigo feliz. E amanhã estarei um dia mais velha. Então serão feliz dezoito anos e um dia pra mim.

Júlia Fagundes 

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Quando eu crescer...



Quando eu crescer quero ser arquiteta, pra poder construir grandes casas de amor no coração das pessoas.
Quando eu crescer quero ser padeira, pra fazer sonhos se tornarem realidade.
Quando eu crescer quero ser professora, que poder ensinar aos outros a melhor parte de mim. 
Quando eu crescer quero ser médica, pra cuidar do lado de dentro das pessoas.
Quando eu crescer quero ser escritora, pra continuar escrevendo minha história da melhor forma possível.
Quando eu crescer quero ser design, pra desenhar um belo cenário pra minha história. 
Quando eu crescer quero ser jornalista, pra contar pros meus filhos, netos, bisnetos, trinetos, tataranetos tudo o que já vi nessa vida.
Quando eu crescer quero ser secretária, pra receber de braços abertos tudo o que há de chegar, tudo o que há de bom.
Quando eu crescer quero ser advogada, pra defender com unhas e dentes a legalização do amor. E da dor.
Quando eu crescer quero ser dentista, pra saber conservar o sorriso do próximo.
Quando eu crescer quero ser atriz, pra engolir minhas angústias e escutar a dos outros. 
Quando eu crescer quero ser empresária, pra saber administrar o meu e quem sabe o seu coração.
Quando eu crescer quero ser gemóloga, pra ter guardada comigo as melhores pedras preciosas. Quando eu crescer quero ter uma banda, pra escrever pelo menos uma das músicas de minha trilha sonora.
Quando eu crescer quero ser turista, pra conhecer cada canto desse mundo.
Quando eu crescer quero ser fotógrafa, pra ter um olhar poético e ver os melhores lados das coisas.
Quando eu crescer quero ser gente, que anda, ri e chora.
Quando eu crescer quero ser feliz.

Carolina Gomes

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Silêncio

O silêncio é uma verdadeira dádiva. Porém, uma dádiva que eu, linguaruda, não sei usar. 
Mas um dia eu aprendo. E vou ser mestre em silêncio. Saberei calar diante de coisas que me frustram, porém não cabem a mim defender. Aprenderei a controlar minha mente tão bem, que a língua não vai nem coçar quando quiser falar. Vou ter ciência de minha própria fala e sentirei exatamente o que falar e quando falar. 
O silêncio é uma verdadeira dádiva. Mas uma dádiva que eu, linguaruda, ainda não sei usar. Mas um dia vou saber.

Júlia Fagundes

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Musique-se


Esses dias eu estava em uma fila e quando olhei para uma escada ao lado, não vista antes, tinham vários adesivos com trechos de músicas. Quem me acompanha no instagram viu que eu até postei uma foto, que na legenda vinha: "E nas escadarias da vida: MÚSICA!”.
Todo mundo tem uma trilha sonora. Não importa o ritmo, a gênero musical, o cantor, todos temos uma música pra cada momento da vida. E mesmo que a musica não faça sentido no primeiro momento, em algum momento da vida ela vai mexer com a gente.
Muitos não sabem o poder que a música tem. Cada nota musical tem uma energia que mexe com a cabeça e até com o coração. Que muda o dia da gente, e faz chorar quando realmente toca a alma.
Ela é tão poderosa que antigamente era utilizada como armas nas guerras. E até o simples som de um trompete anuncia a chegada de uma alteza. Serve como alerta para as melhores e piores coisas. Música é usada pra acordar as pessoas, desde o despertador ao mais preciso conselho. Assim como é impossível ser feliz sozinho, é impossível ser feliz sem música. É impossível viver sem música.
Viver em silêncio seria sufocante. Morreríamos sufocados pelas palavras e pensamentos que não conseguiríamos digerir. A música da um ritmo a vida. Música é sinônimo de vida. E se algumas músicas ainda não fazem sentido pra você simplesmente dance: dois pra lá e dois pra cá!

Carolina Gomes