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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Procura-se

Tenho o costume de sentar quase sempre na mesma cadeira na sala de aula. Tem dias que acho desenhos, letras de musicas, frases, contas matemáticas... Mas outro dia fiquei surpresa com o que encontrei: "Procura-se: eu mesma"
Uh la lá!
Tenho pra mim que antes de ser o que o mundo quer que eu seja tenho que ser eu mesma. Eu sou uma caixinha de surpresas. Sempre tenho alguma coisa nova pra descobrir sobre mim. Eu nunca serei a mesma, mas sempre serei eu. E gosto disso. Gosto de ser quem eu sou e de ter essa vontade de querer ser alguma coisa. Não pense que me procuro só em mim, procuro em você, naquela meninazinha, no João da padaria... Em todo mundo. 
As vezes acho que ninguém vai me entender, afinal nem eu me entendo. Tenho perguntas inacreditáveis e confusões que se forem arrumadas bagunçariam tudo de vez. Me lembro bem de uma coisa que Clarice Lispector me falou uma vez: "Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever." Sim, continuarei a escrever, a pensar, e principalmente, a perguntar.
A pergunta é muito mais importante que a resposta. Ela que faz o cérebro trabalhar. A resposta não é nada mais que a organização dos pensamentos. A pergunta é a fonte deles. Se deixarmos de pensar, digo, de perguntar o cérebro para. Sei que tenho perguntas que vou morrer com elas, mas a maioria pretendo ter as respostas. Não tenho pressa. Tenho uma vida inteira pra pensar.

Carolina Gomes

domingo, 31 de agosto de 2014

A cadeira e o velho



De fato essa não foi a melhor semana pra mim. No tempo que passei no hospital vi muita coisa ruim. Na última vez que voltei para fazer exames, enquanto esperava o médico, avistei um idoso em uma cadeira de rodas. Sozinho. No meio do corredor. Não pensei duas vezes, guardei minhas dores do bolso e fui.

"- O senhor está precisando de alguma coisa?" – perguntei.
Ele com dificuldade de ouvir, eu repeti.

Tive um sorriso com resposta, seguido de:
"- Não, minha filha! Muito obrigada! Estou aguardando minha mulher que foi pegar... (essa parte eu não entendi). Muito obrigada!”
Voltei e sentei em minha cadeira. Satisfeita, pois tinha conseguido tirar um sorriso daquele velhinho.

Fiquei ali por mais alguns minutos e continuei observando-o. Observando a sua maneira de ser invisível. Para muitos ele não estava lá. Apenas a cadeira estava. As pessoas passavam e simplesmente desviavam da cadeira. Algumas olhavam, olhavam...E passavam. Não era possível que só eu o via. Só eu via uma vida inteira de grandes histórias ali, sendo "desprezada".

Eu o vi saindo da sala do médico e até seu "Bom dia", falado com muito esforço, foi ignorado por muitos na sala de espera. Minha vontade era de ficar do lado dele conversando, ouvindo as tantas coisas que, com certeza, ele tinha pra contar, mas eu não podia ficar muito tempo de pé.

As pessoas não viam o livro que ali estava e olhavam pra ele com pena. Aliás, a pena é um dos piores sentimentos que podemos sentir por alguém. Não gosto de sentir pena. É um sentimento reflexivo, ruim para os dois, quem recebe e quem pratica. 

Lembrei-me do meu avô, que tinha histórias incríveis e as mesmas piadas nas quais sempre morríamos de rir. Quantas histórias e lições estavam ali, esperando para entrarem em outras cabeças, e quem sabe, serem eternizadas. Imagina se ele foi um soldado de guerra, se tinha histórias do período da ditadura. Ou se simplesmente ele viveu em uma fazenda plantando alguma coisa. Com certeza tinha história de amor.

Enfim sua mulher retornou, minha angústia diminuiu e ele deixou de ser invisível pra mais uma pessoa.

Carolina Gomes