quinta-feira, 30 de abril de 2015

Cachos soltos

"Por que você alisa o seu cabelo?"
Essa pergunta me torturou durante anos. Quando era criança odiava o meu cabelo. Achava que tinha que ser espichado para ser bonito, afinal todo mundo tinha cabelo liso. 
Fiz de tudo no cabelo, tentativas frustadas de "soltar os cachos", mas sempre metiam um secador e uma chapinha no final. 
Já fui pra escola com um rabo de cavalo encharcado, pois não podia penteá-lo seco. Já fui a vilã dos piolhos, mesmo tendo menos hóspedes sanguessugas que minhas amigas de madeixas lisas, já fui apelidada de "leãozinho" e já pediram que eu soltasse meu cabelo seco apenas para rirem da minha cara. 
No ápice dessas experiências implorei à minha mãe que o alisasse, seria minha chance de olhar no espelho e me sentir tão bem quanto as outras meninas. Nada disso aconteceu, por anos e anos fui mutilando minha verdadeira identidade para agradar e me encaixar num padrão. E eu fiquei igual um espantalho. Meu cabelo virou palha. Mas qualquer coisa era melhor do que a floresta que eu tinha antes, até deixar um boi lamber.
Graças a Deus que tenho irmã, que me convenceu a voltar com meu cabelo natural anos depois. Passei a frequentar salões especializados e comecei a tão temida transição. 
Um ano e meio. Esperei. Sofri. Minha auto estima caiu mais ainda. Mas meu dia chegou. Troquei o cabelão "palhudo" no meio das costas, um mimoso cacheadinho acima dos ombros. 
Se eu fiz bem? Sim, eu me aceitei. Aprendi a cuidar dos cachos e que o apelido de "leãozinho" pra uma cacheada é elogio. E digo com prazer, foi uma das melhores coisas que já fiz na minha vida até hoje. 
Não pense que contei essa história toda atoa. Contei para mostrar que a minha personalidade falou mais alto do que os rótulos aplicados pela sociedade. 
Liberte-se. Todos temos um lado oprimido para ser colocado pra fora, e assim deve ser, não deixemos que a opinião alheia diga como devemos ser/nos comportar. E nem que os modelos aplicados por revistas sejam verdadeiros modelos de vida. E como dizem por aí: seja o que você quiser.

Carolina Gomes

domingo, 26 de abril de 2015

Simplesmente acontece

Quando eu o conheci, eu namorava. Posso até dizer que só eu namorava, meu namorado não. 
Eu estava mergulhada em desespero com os estudos, apavorada com tudo que estava por vir. 
Ele, moleque que só, veio devagar chegando perto, se tornando um amigo incondicional. 
Me dando abraços em momentos onde meu namoro fraquejava e eu já não aguentava mais. No dia que terminei tudo, fui contar pra ele. E em um momento fraquejei querendo voltar, e ouvi a frase "não faz isso, ele te deixa triste, e eu gosto de ver seu sorriso." Depois daquilo não fui capaz de voltar nunca mais. 
E se tratando daquele namoro, era extraordinário que isso acontecesse, já que era feito de indas e vindas.
Quando eu o conheci, eu já era tão magoada, que já tinha desistido de encontrar alguém por um bom tempo.
Aquele ano seria meu, eu e eu mesma. Acabou por ser eu, eu mesma, e os carinhos dele, o apoio dele, e tudo que eu precisava. Eu, e ele. 
Quando eu o conheci, já desacreditava em achar alguém que aprendesse a lidar com meus amigos meninos, com meu jeito expansivo, e com minha espontaneidade. 
Quando eu o conheci, eu amava química, e odiava física.

...

Hoje, alguns longos meses depois, eu namoro. 
Com ele. 
Eu continuo mergulhada em estudos, mas sem desespero, por que ele me ensinou a colocar o chão no pé de volta.
Ele, moleque que só, roubou meu coração em cheio, e veio devagar se tornando o melhor amigo, e mostrando ser o melhor namorado. 
Nosso namoro não fraqueja, não ameaça quebrar. Os longos meses construíram base tão sólida que a estrutura nem sequer balança. 
O meu sorriso se tornou constante, como ele sempre disse gostar. 
Quando notei o quanto ele me fazia bem, olhei pra trás sorrindo, por não ter realmente desistido de encontrar alguém certo pra mim. 
Ele era o cara. 
Hoje, olhando pra trás e notando o ano que passei depois que o conheci, reparei em câmera lenta todos os sorrisos.
Reparei o quanto ele era sempre presente quando eles ocorriam. 
O quanto eu fazia de tudo pra assistir à aula deitada em seu ombro, o quanto fazia a diferença dar um abraço e beijo de bom dia nele. 
Hoje, eu conheci alguém que apoia minha espontaneidade, meu jeito expansivo, e minhas amizades. 
Encontrei aquilo que já tinha desistido de achar quando o conheci. 
E quando eu o conheci, eu amava química, e odiava física. 
Mas hoje eu percebi, que quando a química existe, não adianta relutar, a física simplesmente acontece.

Júlia Fagundes

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Coração vermelho

Mãos que se encontram
Me tocando, te tocando
E no calor das mãos suadas 
A energia ia se concentrando

Olhares que se cruzam
Não são mais os mesmos 
Eram sinceros, fortes e verdadeiros
Uma mistura incomum de sentimentos

Olhando a lua cheia nessa noite escura 
Sentindo o vento bater em meus cabelos
Tenho a certeza de nós dois

Uma linda aurora logo reina
Os braços se entrelaçarão
E de repente, o crepúsculo se fará presente
Ao toque dos lábios avermelhados

Carolina Gomes

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Amigos que se mudam mas nunca se vão.

Gosto de amigos que mesmo à distância, não me deixam só. Daqueles que depois de meses, a risada ainda é permanente, a conversa ainda flui, e ainda divide seu dia a dia com você. Divide histórias, divide gargalhadas, divide momentos. 

Ainda sinto falta do abraço apertado de alguns amigos que se mudaram. Mas - e ainda bem- amigos que se mudam nem sempre se vão. A tecnologia é aliada, e se ouvir a voz e ver o sorriso alegra, marcar de se encontrar pra dar um abraço, olhar nos olhos, explode o coração de felicidade. Data marcada, é data esperada com ânsia insana. 

Sinto falta do dia a dia, de saber do cotidiano e das histórias engraçadas diariamente pela manhã, com um sorriso bobo e inocente. Hoje conto com mensagens e ligações, que me trazem de longe, notícias de acontecimentos, dos engraçados aos trágicos. 

O ombro amigo falta, mas a palavra reconfortante ainda existe pros momentos difíceis. 

Viver na ponte da tortura que é ter um amigo a distância, é indescritível. Mas a nossa sorte é que amigos que mudam nem sempre se vão. 
Julia Fagundes

domingo, 5 de abril de 2015

Uma páscoa pro coração

Era páscoa e eu já havia decidido: Faria uma caça aos ovos surpresa pro meu namorado, com o ovo que eu mesma tinha feito. 
Na porta, 3 bilhetes. "Oi amor, tudo bem? Prepare-se para andar bastante. Entre sem bater". 
Do outro lado da porta, eu com um post-it que dizia "vá até o local onde fica a matéria prima do nosso brigadeiro." 
Assim que ele entrou, mostrou as mãos escondidas atrás do corpo e me mandou escolher uma. Acabei ganhando o conteúdo das duas. De um lado, um ovo da pequena sereia (desenho pelo qual nutro uma paixão infantil insana) e do outro, um coelho com um recipiente que dizia "você é especial" cheio de bombons. 
Meu coração se encheu de alegria. Tem coisa melhor do que preparar uma coisa especial pra quem se ama, e ganhar algo tão especial quanto? (Só o sorriso dele ao abrir a porta já me destruiu por inteira na verdade) 
Eu sempre fui assim, os presentes aos quais eu mais me apegava, eram aqueles que tinham apelo sentimental por trás de tudo aquilo. Nunca me importei com presentes caros (obviamente não reclamava de ganhar), mas sempre fui mais feliz com coisas simples, que mostrassem conhecimento da minha personalidade. 
Ver aquele ovo da pequena sereia foi como se ele dissesse "eu te conheço tanto, que sei que vai amar ganhar algo da ariel, sei que vai se divertir muito mais do que apenas com chocolate". E assim foi. Ele entrou, se divertiu com a sua caça ao ovo, morremos de rir, e contou muito mais do que uma cesta lotada de chocolate qualquer. Foi um presente pro coração, não pro estômago. Aproveitamos esse feriado pra mais uma vez mostrar todo nosso sentimento, e atenção ao que um diz ao outro. 
Muito melhor do que qualquer páscoa, nessa, além da ressurreição de Cristo, renasceu junto nossa paixão, assim como ele faz todos os dias, de maneiras diferentes. 
Júlia Fagundes

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Garçom, por favor!

- Ô moço, me traga uma batida da loucura do Cazuza, com uma dose do amor do Nando, e pra fechar um pouco da alegria do Jair. 
Avise aos navegantes que vem aí um arrastão de felicidade, acompanhado de uma média bem gelada.
Não esqueça aquela Pimentinha pra acompanhar a porção de burritos, que faz uma combinação perfeita com a Rita. 
Gostei da reforma, viu? Os discos de Chico misturados aos de Caetano caíram super bem nessa parede amarela. O nosso velho balcão de tantas histórias cruzadas permaneceu, ainda bem. Os novos quadros da parede fizeram uma combinação perfeita com o piano do Tom. 
- Que artista é esse ? - Perguntou Renato apontando para a vitrola que tocava a minha esquerda. 
- É aquele que é meio bossa nova e rocha in roll. Ah! Soube do Milton ? Ouvi dizer que ele mais Vinícius e Gil foram ao Clube do Guri, ouvir o Ivan que ia se declarar pra Madalena. É nessa roda vida que a música surge, né?! E faz história. Ainda bem. 
Ah! Seu Jorge, pode ficar com a gorjeta. Boa Noite, "procês".

Carolina Gomes