sábado, 6 de dezembro de 2014

Céu, eu

Por que será que eu amo tanto o céu ? 
Sempre quero estar dentro dele no meio da nuvens, testando se elas não são mesmo de algodão. Voar como os pássaros e dançar entre cada raio de sol.
Por que será que eu amo o pôr-do-sol? 
De fato aquela combinação de laranja, vermelho, amarelo e azul me atraem muito. Não tem nada mais leve do que sentir os últimos raios solares de um dia cansativo. Renova.
Tenho tanta afinidade com o céu que meu humor às vezes varia com ele. Se está nublado, eu fico nublada. Se está limpo e bonito, eu fico calma e tenho um dia leve. Se está marcando chuva, eu fico igual tempestade.
Mas o melhor é aquele dia que as nuvens ficam definidas, com formas de bichos que só eu consigo ver. Sou capaz de passar horas deitada no chão brincando com as nuvens, mesmo que elas estejam lá longe. A graça é essa. 
Se tivesse perto não me atrairia. O que me faz querer ser o céu são os mistérios escondidos nele.

Carolina Gomes

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Nódoa.

Você veio e me manchou. Mas não tem problema. Todo mundo tem aquela receita de tirar manchas infalível que a tatarataravó descobriu e passou adiante, não é? Quem sabe não esteja na hora de eu usar a minha? Foi todo um aparato pra estar contigo. De maquiagem a molduras no coração. Foram sinuosas mudanças, que languidas, te trouxeram até mim. Mas vai entender essa minha cabeça... Esse meu coração... Abri meus olhos e notei com atenção. Seriam essas manchas vermelhas, o que restou da paixão? 

Não adiantou luva, sabão de coco, esfregão. E como quem não quer nada, resolvi usar a receita da vovó. Derramei sem dó, e desatei nosso nó. 

Te mandei partir quando eu menos achei que iria. Mas no fundo, o meu coração meio que sorria. Parecia ter tirado um peso das costas. Como se na caverna em que eu estava, se acendessem tochas. 

Era estranho te deixar e dizer que aquilo tinha me feito flutuar, e que se eu deixasse, o vento podia até me levar. Eu, que sempre amarrei meus burros em você, hoje fico à mercê, de perceber que ir embora nem sempre significa sofrer. 

Retirei às pressas as nódoas suas. Me despi de toda sua carga e me vi nua. Pronta pra vestir o que quer que meu coração quisesse, já não preciso de missa, oração nem prece. 

Hoje meu coração sorri, pelas manchas que deixei ir, com a receita da vovó, que te fez reduzir à pó.

Júlia Fagundes