domingo, 3 de maio de 2015

Com amor, eu

Querido amor, 
se você está lendo essa carta, significa que eu parti dessa pra uma melhor. Você sabe que eu acredito naquela coisa toda de vida após a morte, então eu espero que eu tenha ido pro céu. Se eu não fiz o suficiente pra que isso aconteça, faça por mim e seja sempre uma pessoa boa, como já era de costume seu. 

Quero que saiba que você me fez feliz. Você foi meu amor incondicional. E que se um dia brigamos, eu passei a briga inteira torcendo pra que acabasse logo e eu ganhasse um abraço apertado. É que você sabe, a vida é muito curta pra perder tempo com essas coisas. Até o momento que te escrevo isso, permanecemos intocáveis, sem brigas, sem bate boca. Todo problema resolvido no diálogo. 

Eu vou sentir saudade. Sei que você também. Mas tenho um pedido: arranje outra. Arranje mesmo, alguém que te faça sorrir, e esteja ao seu lado sempre. Por que eu já te disse isso: amar é querer a felicidade do outro, independente de quem a traga. E no momento eu não posso estar perto, então só quero que seja feliz. 

Sei que ninguém vai substituir nossos longos olhares fixos, nossos sorrisos intermináveis, nossa diversão ao pé do fogão, ou nossas gargalhadas. Mas a felicidade pode vir de jeitos diferentes. Procure algum. Não se lamente por muito tempo pela minha morte, um dia a gente se encontra. E enquanto isso não acontece, não tem como voltar, e a sua vida não para pra um momento de sofrimento tão longo. Sofra intensamente por alguns dias. Mas revigore-se e mantenha apenas a saudade. 

Eu vivia com medo da sua morte. É egoísta, mas eu sempre tinha pra mim que seria mais fácil morrer do que te ver partir. E foi, tenho certeza. Te deixar pode ter me doído, mas te ver partir seria ainda mais difícil. Por isso aonde você ia, eu queria notícia. Não era ciúme, não era medo da traição. Era medo de uma tal dona morte. Pode parecer macabro viver pensando nisso, mas queria sempre fazer de tudo pra te proteger ao máximo, pra ter você sempre pertinho.

Vivemos intensamente, sempre. Do começo, ao trágico fim. Foi literalmente até que a morte nos separe. E separou. Mas vou em paz por saber que fiz tudo que eu podia, e que eu sempre estive bem perto de você, vivendo ao máximo. Que meu coração foi seu, e se depender de mim, vai continuar sendo. Que daqui do céu (eu espero que seja onde estou), eu te olho sem parar, penso em você constantemente e te guio e protejo. 

Eu não devo ter sido lá a namorada perfeita, mas me esforcei ao máximo pra te deixar sempre com um sorriso no rosto. Nenhum brigadeiro nunca teve gosto tão bom quanto aquele que comíamos juntos. Nenhum filme foi tão divertido quanto aqueles que víamos grudados no nosso cantinho. Nenhum primeiro beijo jamais seria tão bom quanto todos os nossos juntos (por que sim, demos muitos primeiros beijos). Nenhuma simplicidade me encantou tanto quanto a sua, jamais. 

Eu quero que saiba que te escrevo isso não pra que chore e guarde a carta com pingos escorridos entre as letras. Mas pra que a gente tenha mais uma conversa depois de tudo. Ainda somos eu e você, aqui, no tête-à-tête. Pode responder, eu vou ouvir. Sinta saudade, eu também vou sentir. Mas jamais se arrependa do que vivemos, fomos felizes demais. 

Espero que você continue a pessoa maravilhosa que sei que é. Não se esqueça dos aprendizados que coletamos, e das felicidades que vivemos. Você sempre terá sido (e ainda é) um amor incondicionalmente lindo. Obrigada. 

Com amor, eu. 

Julia Fagundes