Primavera. A temperatura estava amena e era mais um dia para Dona Cila. Atrás de um portão velho de ferro se escondiam a senhora e sua companheira, a cadeira de balanço. Passava horas ali, analisava o voo dos pássaros e o balançar das folhas das árvores.
Ao lado, uma casa pequena, velha e bem bagunçada. As janelas já estavam emperradas, e só havia uma porta para entrar e sair. Saia apenas para a varanda, onde havia um vaso com o caule seco de uma velha orquídea, que apesar de ser primavera fazia dois anos que não dava flor.
Foi no vai e vem de sua cadeira que Dona Cila viu as transformações da vida: uma lagarta que virou borboleta, a garoa que virou tempestade e sua filha, que a visitava uma vez por semana para renovar o estoque de comida e remédios e tomar a benção. "Boa-tarde" e "Que Deus te abençoe" eram as únicas palavras que saiam da boca de ambas naquela casa.
A filha cresceu, casou-se, procriou e a senhora continuou a se balançar na velha cadeira. A solidão se fazia presente a cada dia. E no abrir diário dos álbuns de fotos, Cila se lembrava dos eventos passados. A cada passar de páginas era um sentimento diferente. Pessoas que já se foram, outras que cresceram e nunca mais voltaram. O intervalo de visitas semanais aumentou. Uma vez por mês. De seis em seis meses. De ano em ano, até nunca mais.
Ela fora esquecida e deixada de lado, igual se deixa uma velha blusa. Os remédios foram consumidos por completo. A comida acabou. A vida, também. Agora a cadeira ficou só.
Uma vizinha que passava todos os dias e a via balançando, notou sua falta, e correu para avisar a filha. Cila foi encontrada morta uma semana depois de seu falecimento. Mas apesar da solidão, foi encontrada viva no coração daqueles que das fotos fizeram as lembranças.
Ao lado, uma casa pequena, velha e bem bagunçada. As janelas já estavam emperradas, e só havia uma porta para entrar e sair. Saia apenas para a varanda, onde havia um vaso com o caule seco de uma velha orquídea, que apesar de ser primavera fazia dois anos que não dava flor.
Foi no vai e vem de sua cadeira que Dona Cila viu as transformações da vida: uma lagarta que virou borboleta, a garoa que virou tempestade e sua filha, que a visitava uma vez por semana para renovar o estoque de comida e remédios e tomar a benção. "Boa-tarde" e "Que Deus te abençoe" eram as únicas palavras que saiam da boca de ambas naquela casa.
A filha cresceu, casou-se, procriou e a senhora continuou a se balançar na velha cadeira. A solidão se fazia presente a cada dia. E no abrir diário dos álbuns de fotos, Cila se lembrava dos eventos passados. A cada passar de páginas era um sentimento diferente. Pessoas que já se foram, outras que cresceram e nunca mais voltaram. O intervalo de visitas semanais aumentou. Uma vez por mês. De seis em seis meses. De ano em ano, até nunca mais.
Ela fora esquecida e deixada de lado, igual se deixa uma velha blusa. Os remédios foram consumidos por completo. A comida acabou. A vida, também. Agora a cadeira ficou só.
Uma vizinha que passava todos os dias e a via balançando, notou sua falta, e correu para avisar a filha. Cila foi encontrada morta uma semana depois de seu falecimento. Mas apesar da solidão, foi encontrada viva no coração daqueles que das fotos fizeram as lembranças.
Carolina Gomes