quinta-feira, 19 de março de 2015

Vendedora de biscoitos

Depois que comecei a estudar a noite minha vida mudou, novas amizades vieram e junto novos conhecimentos. 
Era mais uma noite de aulas chatas e cansativas, mas uma coisa fez ela ficar diferente. Ao chegar na escola avistei uma vendedora de biscoitos e sua filha. A mesa não tinha mais que 50 saquinhos, mas tinha mais de 6 sabores diferentes.
Decidida a comprar um saquinho para ajudá-las, me aproximei da mesa. Estando meio atrasada e desorganizada, não achava o dinheiro de jeito nenhum. Ela então decide me deixar levar o biscoito pra pagar depois. Recusei. Tinha certeza que tinha o dinheiro, mas precisava de um pouco de calma para procurá-lo . Não nos conhecíamos, não quis deixá-la angustiada, mas vi seu desespero pra juntar algum dinheiro.
Fui para sala. No caminho achei o dinheiro e encontrei com uma amiga, Ana. Voltamos. 
Nos aproximamos da mesa para entender os sabores. Logo de cara fomos recebidas por um sorriso. Um sorriso sincero e bonito acompanhado de um brilho nos olhos. Nos apresentou seus maravilhosos biscoitos e desandou a falar. 
Apreciei a facilidade com que aquela senhorinha tinha de contar as lindas histórias de sua vida. Contando como subiu, desceu e está subindo de novo. 
Contou, ainda, que já trabalhou com tudo nessa vida, que agora trabalhava para sustentar sua casa. Desde então passávamos todos os dias para dar um boa noite e bater um papinho. 
Um dia descobrimos que ela ia trabalhar oito da manhã e ficava até dez da noite com apenas dois cafézinhos e um açaí no estômago. Chiamos. Não tinha cabimento uma pessoa ficar o dia todo sem comer, e mais.. Doente. Mais que de pressa abri minha bolsa e a dei uma maçã que tinha comprado pela manhã. Ela olhou, apreciou, alisou e falou que não ia comer tudo pois ia deixar pra filha. Fizemos ela comer tudo. E em seguida ela agradeceu com uma cara de quem estava mesmo com fome.
Na mesma noite, como levamos lanche de casa, decidimos passar a pegar janta pra ela. No primeiro dia que levamos a filha nos recebeu com um sorriso imenso seguindo de: "Ai graças a Deus, eu estava morrendo de fome". E a partir daí elas passaram a ir embora já jantadas. 
As semanas iam passando e os biscoitos iam ficando mais populares e as pessoas pediam que ela levasse outras coisas para vender. E assim ela fez, ampliou seu cardápio. Ela é prova viva que podemos viver com pouco e acima de tudo, sermos felizes. 
Ajudá-la nos fazia tão bem, que tínhamos necessidade de fazer aquilo.
Ela me mostrou com podemos recomeçar das mais distintas maneiras e se nós estivermos lá em baixo, no fundo do poço, sempre vai ter uma estrelinha que vai brilhar a nosso favor. A luz no fim do túnel pode parecer, de princípio, apenas uma vela, mas com certeza, quanto mais nos aproximamos dela vemos que é um holofote. 
Infelizmente semanas antes da virada do ano não nos encontramos mais. Rezo para que sejam só umas férias! 

Carolina Gomes